16 de mar. de 2012

Mobilidade Urbana em Ponta Grossa e a Importância de um Plano Diretor

A mobilidade urbana tem sido um tema cada vez mais discutido em Ponta Grossa. Em 2010, dados publicados pela imprensa davam conta de que a cidade estava entre as 100 cidades brasileiras com a maior relação carro/habitante: 135 mil veículos para 214 mil habitantes, ou 1 carro para cada 2,3 moradores. Esses dados mostravam também que, a cada mês, aproximadamente 800 novos carros entravam em circulação na cidade.

Apesar do tema mobilidade urbana não se referir apenas ao trânsito para carros, a redução da circulação de carros particulares na cidade é uma das medidas mais eficazes para a melhoria da mobilidade urbana, obviamente acompanhada de outras ações. À primeira vista, pode parecer uma medida não muito popular, porém a experiência de cidades onde isso aconteceu mostra que a população agradeceu a essa mudança.

Av. Vicente Machado
Ponta Grossa, PR
A frase “não se pode resolver um problema com a mesma mente que o criou” atribuída a Einstein, ilustra bem a forma como administração municipal tem lidado com a questão da mobilidade urbana em Ponta Grossa: resolve-se o problema dos carros com mais carros, ou seja, aumenta-se o fluxo de veículos nas ruas, através da retirada das áreas de estacionamento nas vias ou criando-se vias secundárias.

Não que isso também não seja necessário. Mas não é difícil entender que o espaço urbano é finito, e, portanto, o número de veículos não pode aumentar indefinidamente. Necessita-se, assim, de medidas que estimulem o cidadão a deixar o carro em casa e utilizar o transporte coletivo ou o transporte não-motorizado, incluindo aí o caminhar.

Quais os argumentos que os gestores podem usar para não adotar tais medidas? Por exemplo, “que todo mundo quer ter um carro e ninguém gosta de andar de ônibus”. Será? Então, por que em países da Europa, como por exemplo, na França, as pessoas deixam o carro em casa e vão trabalhar de ônibus ou de bicicleta? Será que é por que o francês gosta de sofrer e então pega ônibus para ir trabalhar? Não, é porque lá as políticas públicas estimulam o transporte coletivo para que este seja de qualidade.

Mas aqui não. Aqui, transporte coletivo, assim como as bicicletas, são considerados como meio de transporte de segunda categoria. É só ir no Terminal Central e ver o estado em que este se encontra, com problemas de segurança, limpeza e manutenção precárias.

Será que se tivéssemos linhas de ônibus diferenciadas, como tem em Londrina o Psiu, que oferece água e possui ar-condicionado, as pessoas não optariam por deixar o carro em casa e ir de ônibus? Não seria mais agradável pegar um ônibus e ler um livro até chegar ao local de trabalho? Um micro ônibus na rua significaria 20 carros a menos...

Ouro argumento comummente utilizado por quem não está familiarizado com o assunto, é o de que Ponta Grossa não é favorável para a bicicleta. Então, por favor, alguém comunique isso aos milhares de trabalhadores que usam a bicicleta para ir ao Distrito Industrial, Vendrami e outros locais de trabalho. Esse é um mito que tem que acabar. Ponta Grossa tem relevo acidentado, porém não em toda a cidade. Existem várias regiões em que ciclovias/ciclofaixas poderiam ser construídas, para citar algumas: Uvaranas, linhas férreas desativadas (como por exemplo a paralela à Visconde de Mauá, que sai da Bungue e vai até a Avenida dos Vereadores) e vários outros locais. E, se encontrar uma subida durante o trajeto, o trabalhador não se importa de descer de sua Barra Forte e empurrar até o topo da encosta. É assim que ele se adaptou à topografia de nossa cidade. Só não dá para se adaptar à falta de segurança no trânsito e à falta de planejamento.

Irati, PR, conta com ciclovia
Duas cidades vizinhas a Ponta Grossa, Guarapuava e Irati, já têm ciclovias. Em Irati, que por sinal, tem o relevo mais acidentado que o da nossa cidade, estão sendo incorporados mais 3,68 quilômetros ao trecho batizado como Linha Viva, fruto de convênio entre o município e o Ministério das Cidades, com investimento de R$ 478.210,41. A motivação do prefeito Sergio Stoklos em incentivar as pessoas a usarem suas bicicletas é que é ecológico, saudável e a sua preocupação é que as pessoas que circulam a pé ou de bicicleta tenham segurança.

Mas aqui em Ponta Grossa, a situação deve mudar. Nós, do Movimento ProCicloviasPG, ficamos felizes em constatar que a discussão do tema da mobilidade urbana (e até mesmo das ciclovias!) está se ampliando e que, com certeza, fará parte da pauta de reivindicações que apresentaremos a todos os candidatos a prefeito e vereador neste ano.

Plano Diretor Participativo
Mas o cerne da questão não está nas ciclovias. O que importa realmente é que a próxima gestão aprove, de uma vez por todas, o Plano Diretor Participativo da cidade de Ponta Grossa. Sem esse Plano, ficaremos sempre à mercê das prioridades dos gestores de plantão, e o que é pior, com mais e mais medidas pontuais e de curto prazo que não irão resolver o problema em sua causa. Cabe à população reivindicar esse direito, participar na elaboração do Plano Diretor e fiscalizar a sua implementação.


--Fátima Ribeiro, integrante do ProCicloviasPG

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